quarta-feira, 2 de julho de 2008

20º - Habilidades

Qual o perfil do profissional com alta empregabilidade? Por que aquele seu amigo muda de emprego num piscar de olhos enquanto aquele outro passa meses à procura de recolocação? Os livros de carreira tentam responder perguntas como essas há anos. Agora, um estudo da consultoria DBM no Brasil, multinacional especializada em recolocação de executivos, surge para ajudar a compreender o que acontece no mercado de trabalho e na intimidade das empresas para ora valorizar determinado profissional, ora considerá-lo impróprio para o cargo. A DBM fala com autoridade. A consultoria costuma emplacar uma média de 25 executivos por mês no mercado brasileiro. O levantamento que você conhece em primeira mão nesta reportagem é feito há 17 anos. Ao longo dessas quase duas décadas, a consultoria reuniu 4 500 entrevistas pessoais e testes psicológicos de executivos (gerentes, diretores e presidentes) das 500 maiores companhias com sede no Brasil. Dos entrevistados, 85% são homens e 15% mulheres, com idade entre 25 e 65 anos. Os especialistas concluíram que: * Não é o seu conhecimento técnico, mas sim o seu comportamento que o diferencia dos profissionais da sua empresa e de seus concorrentes no mercado de trabalho.
* São seis as habilidades comportamentais que fazem a diferença no seu desempenho na avaliação dos chefes. São elas: comunicação, ansiedade, independência, adaptação, liderança e criatividade.
* Essas competências, manifestadas em maior ou menor grau, podem beneficiar ou prejudicar sua ascensão profissional.
* Além disso, o ponto ótimo com que as habilidades aparecem para formar o profissional perfeito muda ao longo do tempo. Ou seja, o executivo ideal hoje não é o mesmo dos anos 80 nem tampouco o dos anos 90.
Voltando à pergunta sobre quem as empresas contratam, tem-se que são aqueles profissionais com índices elevados de comunicação, adaptação e liderança -- nesta ordem. Numa escala de zero a 10, os bambambãs, independentemente do setor de atuação, têm nota igual ou superior a 7 em todas essas aptidões. Se você não tem nenhuma delas, fique tranqüilo, é possível desenvolvê-las. Algumas exigirão um esforço maior, como a independência. Ela só é alcançada com trabalhos de autoconhecimento, como terapia. Mas vale a pena se inspirar em perfis de profissionais que há muito tempo estão em alta no mercado. Pensando nisso, com auxílio da DBM, VOCÊ S/A traz o perfil de seis executivos que servem de exemplo para cada uma das habilidades ressaltadas no estudo. Confira.


COMUNICAÇÃO
Conceito: É a capacidade de envolver os demais e de expor idéias. Essa é a habilidade mais valorizada pelo mercado. Antigamente, ser comunicativo era uma competência requerida nas áreas de relacionamento de uma empresa, como o departamento de vendas e relações públicas. Para os profissionais de finanças e de administração, bastava o conhecimento técnico. Não mais. "Hoje quem tem somente o conhecimento técnico dificilmente vai além do cargo de gerente", diz o psicólogo paulistano Simão Pires Reis, da Integração Psicologia Aplicada, parceira da DBM na realização da pesquisa.
Inspire-se: O presidente no Brasil da Chubb, multinacional americana de seguros, Acácio Queiroz, de 57 anos, assumiu a presidência da empresa em janeiro de 2005. A Chubb vinha de um ano ruim, com baixo desempenho financeiro. A comunicação entre as áreas era péssima. Acácio aboliu os cafés da manhã com o presidente (programa em que os funcionários sentam-se com o CEO para falar de questões da empresa) e passou a visitar os gestores nos departamentos em vez de recebê-los em sua sala. "Tudo era muito formal. Agora, aumentamos a sinergia entre as áreas", diz. O resultado: a operação saiu do prejuízo de 1,8 milhão de reais, em 2004, para lucro de 13,8 milhões, em 2005. Aliás, não houve corte de pessoal.


ADAPTAÇÃO
Conceito: Capacidade de mudar rapidamente de acordo com o cenário (da empresa), o panorama de mercado ou a nova cultura (seja da companhia, seja do país). Depois da comunicação, essa é a segunda competência mais valorizada pelo mercado. "O executivo que não tiver essa habilidade vai ter problemas para manter o emprego", diz Simão. Detalhe: as mulheres têm maior capacidade de adaptação do que os homens, segundo o levantamento.
Inspire-se: O executivo carioca João Ramires, de 33 anos, tem talento e muito, muito, jogo de cintura. Nos últimos seis anos, ele teve de mudar duas vezes de cidade e uma de país. Hoje, ele comanda a fábrica da Coca-Cola em Cingapura, no sudeste asiático. Workaholic declarado, o executivo conta que também teve de aprender a ser flexível na vida pessoal. No início da carreira, João virava a noite trabalhando, não cuidava da alimentação e tinha uma vida sedentária. Aos 23 anos, já estava com pressão alta. Hoje, pratica esportes e tem uma alimentação regrada. "Trabalho bastante, mas aprendi a ser mais flexível com minha agenda", diz.


INDEPENDÊNCIA
Conceito: É a habilidade de tomar decisões difíceis e executá-las mesmo quando o profissional não tem quem o oriente. "É o sujeito para quem você delega os objetivos e ele entrega os resultados", define o psicólogo Simão Pires Reis. Desde o final da década de 80, o perfil dos profissionais com relação a essa aptidão -- que sempre foi alta entre os brasileiros -- mudou pouco. Principalmente quando comparada a comunicação, adaptação e liderança. "Essa competência sempre foi muito exigida dos executivos", explica o psicólogo. A independência está associada a profissionais combativos, ousados e proativos.
Inspire-se: O executivo Luiz Kaufmann, ex-presidente da Aracruz (de 1994 a 1998), empresa em que provocou uma revolução. Quando assumiu, pediu carta branca aos acionistas. A empresa tinha uma dívida de cerca de 650 milhões de dólares. O que ele fez? Captou recursos no exterior a juros muito baixos. Pagou o que a empresa devia e ainda sobrou troco para a comemoração.


ANSIEDADE
Conceito: Essa habilidade está relacionada à forma como o profissional lida com a tensão. A ansiedade tem um ponto ótimo. Quando encontra esse ponto, o profissional consegue picos de produtividade. A pessoa que é excessivamente ansiosa, no entanto, perde o foco nos objetivos, além de gerar tensão em toda a equipe, pois a velocidade com que ela cobra os subordinados é maior do que o tempo de realização do trabalho. Níveis elevados de ansiedade também estão associados à baixa performance. "As empresas hoje são ambientes pouco tolerantes com os ansiosos", diz Marcelo Cardoso, gerente-geral da DBM no Brasil.
Inspire-se: O diretor-presidente da subsidiária brasileira do laboratório farmacêutico americano Merck Sharp & Dohme, José Tadeu Alves, de 51 anos, sabe muito bem o que é controlar a ansiedade. Ele teve de se manter equilibrado por causa da repercussão do caso do antiinflamatório Vioxx. Quando foi lançado em 1999, o Vioxx rapidamente se tornou líder mundial de mercado. No Brasil, José Tadeu investiu milhões na sua equipe de vendas, formada por profissionais muito especializados (um terço deles com pós-graduação). Logo, o produto respondia por boa parte do faturamento da filial. O problema: descobriu-se que o uso prolongado do remédio dobrava os riscos de infarto e derrame. José Tadeu teve de lidar com as reclamações dos consumidores, processos judiciais e a perda de faturamento. A matriz optou, no ano passado, por deixar de fabricar o Vioxx. E José Tadeu permaneceu no cargo.


CRIATIVIDADE
Conceito: Embora muito se diga sobre a criatividade, as empresas valorizam pouco essa competência. Desde que a pesquisa da DBM teve início, em 1988, a criatividade dos executivos vem caindo. A explicação dos especialistas é que as companhias estão focadas no resultado de curto prazo e isso poda a criatividade. Uma frase do executivo carioca Fernando Tigre, presidente das cervejarias Kaiser, ilustra bem o que pensam os presidentes a respeito da criatividade de seus subordinados. Tigre disse: "Eu costumo dar nota 3 a uma boa idéia e 10 a uma boa idéia implementada".
Inspire-se: O engenheiro paulista Luiz Ernesto Gemignani, de 58 anos, presidente da Promon, do setor de engenharia e tecnologia, arranjou uma fórmula simples para estimular a empresa a se reinventar sempre: "Na Promon, identificamos oportunidades em que nossa competência técnica representa um diferencial e nos possibilita empreender de forma criativa e economicamente interessante", diz. Ou seja, criatividade deve vir atrelada a resultado.


LIDERANÇA
Conceito: Habilidade para resolver problemas racionalmente; de manter as pessoas focadas e motivadas. Essa competência também vem aparecendo com uma intensidade cada vez maior no perfil dos executivos brasileiros. Daí muitos conseguirem uma recolocação em menos de seis meses. Uma curiosidade: as mulheres têm melhor perfil de liderança.
Inspire-se: O maior propósito do executivo Sergio Chaia, de 40 anos, diretor-geral da Sodexho Pass no Brasil, é ajudar sua equipe a se desenvolver, alinhando suas necessidades e valores aos da empresa. Com essa filosofia, ele e seu time superaram as metas previstas para o ano passado. "Quando os funcionários estão conscientes do seu papel na empresa, gostam do que fazem e acreditam nos valores da organização", afirma.

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